domingo, 7 de agosto de 2011

UM DIA DE TIRAR O FÔLEGO

Quando Sidney Lumet, grande diretor estadunidense, desenvolveu 12 homens e uma sentença (12 Angry Men, 1957), já estava nítida sua sensacional habilidade para dirigir longas – metragens que, com um enredo simples, conseguiam envolver os espectadores com seus personagens bem construídos e bastante curiosos. Quase vinte anos mais tarde, Lumet repete essa façanha e faz mais uma obra-prima: Um dia de cão (Dog Day Afternoon, 1975). Uma história que, se vista sob uma ótica descuidada, pode até passar despercebida, mas ao analisá-la melhor, pode-se enxergar a construção psicológica cuidadosa dos personagens e os detalhes que são cruciais para o enriquecimento do filme.

Baseado em fatos reais ocorridos em 22 de agosto de 1972, o filme conta a história de Sonny Wortzik (Al Pacino) um típico cidadão americano, pai de família e desnorteado tentando encaixar-se no american way of life. O que faz de Sonny um homem diferetente é seu outro casamento com o homossexual Leon, um rapaz que quer a todo custo fazer uma operação para mudança de sexo, algo que custa em torno de três mil dólares. Desesperado, Sonny reuni-se ao amigo Sal (John Cazale) para roubar um banco e conseguir o dinheiro. O que era para durar apenas 10 minutos acaba se estendendo horas a fio e a dupla vê-se cercada por policiais, por agentes do FBI e pela mídia, que transforma tudo em um grande evento.

As minudências presentes em todo o longa fazem dele algo ainda mais profundo e foram estes detalhes tão significativos que contribuiram para que o roteiro de Frank Pierson ganhasse o Oscar de melhor roteiro original. Simples minúcias como a maneira que Sonny trata os funcionários, sempre de modo tão gentil, deixando as pessoas completamente à vontade dentro do banco, comprovam que a dupla de assaltantes não queria machcucar ninguém. Aliás, com atitudes como essa, o personagem de Pacino permite que passemos a tratá-lo como bom moço, os espectadores torcem para ele e mal se dão conta de que na verdade é um criminoso. Outro detalhe que auxilia a narrativa é a característica marcante de Sal sempre tentando certificar as emissoras de que ele não é homossexual, o que gera uma situação cômica que acaba quebrando a tensão constante no filme.

A construção do longa é tão bem trabalhada que Um dia de cão não tem sequer uma música para realçar as emoções. Isso ocorre simplesmente porque não é necessária a presença de uma trilha sonora, as sequências, por si só, já são tensas o suficiente e qualquer complemento pode ser facilmente dispensado. Com uma montagem de boa desenvoltura, o filme mostra-se na maioria do tempo de duração nunca entediante.

Por fim, Lumet transforma a trágica história real em um execelente filme, provando mais uma vez que é bastante qualificado para exercer sua função de diretor. Um dia de cão com certeza merece atenção e é um longa que não pode deixar de ser assistido.

Anny Gabriely

(CALL, 1º e 2º anos, quinta-feira, sala 08)

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